terça-feira, 7 de abril de 2009

Armadilhas para o investidor


Por Angelo Pavini, de São Paulo
07/04/2009
Que tal multiplicar seu dinheiro por três em poucas semanas usando apenas a internet? Basta se cadastrar em um site e pagar a taxa de adesão. Os primeiros recebem dos demais que vão entrando e quanto mais cedo você entrar, mais vai ganhar. Você recebe ainda mais R$ 10 por amigo indicado. Imagine que, na poupança, R$ 500,00, em 30 dias, rendem menos de 1%, ou R$ 5,00. Já nesse inovador investimento, aplicando os mesmos R$ 500,00, você receberá R$ 1.500,00 em dois meses, o equivalente a 150%, ou 150 vezes a poupança!
O funcionamento é simples. Como todos sabem, a internet é atualmente a maior fonte de renda do mundo e, ao se associar a esse site, você ganha todas as ferramentas para ter renda usando marketing de rede. É a maneira mais rápida para colocar em prática os ensinamentos do best-seller "O Segredo". Entendeu?
Quem se empolgou com o "investimento" acima deve ter cuidado. Trata-se de uma pirâmide que circula na internet e que usa esses mesmos argumentos para atrair incautos. Enquanto o mercado ainda digere o caso da fraude gigante do ex-presidente da Nasdaq nos EUA Bernard Madoff, que montou uma pirâmide de US$ 52 bilhões, analistas e consultores alertam para o risco de o investidor, neste momento de mercado fraco, colocar em perigo todo seu dinheiro em armadilhas que alardeiam altíssima rentabilidade como chamariz.
Há tanto os investimentos que existem, mas são irregulares, não seguem as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e trazem o risco de quebrar - em geral, se transformando em pirâmide à medida que o negócio fracassa e o dinheiro de quem aplica paga os saques de quem sai - até os golpes financeiros puros e simples.
Em todos os casos, o que atrai o investidor é a cobiça, pecado capital capaz de levá-lo ao inferno ainda em vida. Que o digam os milhares de pessoas que até hoje esperam reaver as aplicações feitas em esquemas envolvendo boi, avestruz, palmito, camarão e afins.
O canto de sereia da alta rentabilidade seduz até investidores experientes a ponto de deixá-los cegos, esquecendo de cuidados básicos. Foi o que aconteceu recentemente com um grupo de aplicadores que aplicou em clubes distribuídos irregularmente por uma corretora de câmbio. No estatuto, que trazia um número de registro na bolsa que não existia, o clube garantia o resgate do valor aplicado indefinidamente e ainda um rendimento de 5% ao mês nos três primeiros meses, independentemente do comportamento da bolsa. No fim do ano, e seis meses depois de a CVM ter alertado o mercado para a irregularidade, os clubes deixaram de honrar os resgates.
"Trabalho no mercado e sabia que ninguém consegue dar esse retorno garantido, mas meus amigos estavam ganhando tanto e tão rápido que eu pensei que poderia sair antes de a coisa estourar", diz um investidor do clube, que procurou o Valor e agora tenta reaver parte do que aplicou. Alguns investidores chegaram a tomar empréstimos em bancos para aplicar e agora, além da perda, ainda ficaram com uma dívida.
O caso está sendo investigado pela CVM, que abriu inquérito administrativo, e também pelo Banco Central, que liquidou a corretora. Há também um inquérito criminal na Polícia Federal e investigações no Ministério Público.
Além das aplicações irregulares, há sinais de crescimento também nos golpes de mercado, onde criminosos oferecem uma aplicação falsa e simplesmente somem com o dinheiro do investidor. Na semana passada, dois clientes de uma corretora foram contatados por um desconhecido dizendo que eles tinham direito a uma alta soma relativa a aplicações no antigo fundo 157.
As quantias a receber chegariam a R$ 600 mil e seriam referentes a aplicações do fundo em ações da Usiminas. Para receber, bastaria depositar os valores do "imposto de renda" - em um caso, R$ 15 mil e, em outro, R$ 5 mil - em uma conta indicada por esse desconhecido, que se dizia representante de uma corretora. Era fornecido até um telefone para o investidor ligar para a corretora, para "confirmar".
O estoque de ideias dos espertalhões não é pequeno, afirma José Alexandre Cavalcante Vasco, superintendente de Orientação e Proteção aos Investidores da CVM. "Além do fundo 157, temos denúncias de pessoas que ligam falando de ações perdidas de empresas de telefonia e pedem valores adiantados para liberar o dinheiro", diz.
Há três anos, a moda eram os investimentos via internet em moedas no exterior, ou Forex, na maioria dos casos irregulares, conforme denunciou na época o Valor. "Havia alguns sites que, apesar de estarem operando irregularmente no país, até faziam as transferências de valores, mas muitos eram totalmente falsos, o dinheiro caía direto na conta do golpista", diz Vasco.
Uma dificuldade da CVM é conseguir localizar os golpistas, que fogem assim que sentem que o esquema foi descoberto. "Há pouco tempo, um grupo de falsos agentes autônomos garimpava ações de telefonia no interior de Minas, comprando papéis a preços irrisórios", lembra Vasco. "Mas, cada vez que descobríamos o esquema, eles mudavam para outra cidade, para escapar da fiscalização."

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