Fonte: Valor Econômico on line, em 10/06/2010.
Por Nelson Niero, de São Paulo
Especialistas americanos identificaram "falhas" em trabalhos de auditoria feitos pela Deloitte no Brasil. A firma, uma das chamadas "quatro grandes" do setor de contabilidade no mundo, contestou as observações.
O Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas (PCAOB, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, divulgou na semana passado o relatório sobre a inspeção que fez, entre maio e junho de 2007, na operação brasileira da Deloitte, a segunda maior firma global de auditoria e consultoria por faturamento.
É a primeira inspeção feita no Brasil divulgada pelo órgão, que foi criado pela Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, depois dos escândalos empresariais do início da década. As outras grandes - PwC, KPMG e Ernst & Young - também foram avaliadas, mas os resultados ainda não foram divulgados.
O relatório sobre a Deloitte diz que foram encontradas "deficiências" nos dois trabalhos de auditoria que foram avaliados. O nome das empresas não é revelado.
As falhas, segundo o documento, foram significativas a ponto de a equipe do PCAOB concluir que "a firma não obteve evidências suficientes para dar base à sua opinião sobre as demonstrações financeiras [das empresas auditadas]".
A resposta da Deloitte, em carta do então sócio Francisco Papellás Filho, diz que o parecer é dado para as demonstrações financeiras "como um todo", o que não teria sido levando em consideração.
Uma das falhas apontadas refere-se à classificação, na demonstração de resultados, de um desconto dado pela companhia auditada a um fornecedor. O débito estava na rubrica "despesas operacionais", mas a equipe do PCAOB considerou que o valor deveria ter constado como uma dedução da receita de vendas.
A mudança, que não alterou o resultado, "não foi relevante, apenas uma questão de apresentação", disse Maurício Pires Resende, sócio da Deloitte responsável por questões regulatórias. Ainda assim, a empresa decidiu republicar o balanço daquele ano.
Outra questão levantada pelo PCAOB diz respeito à "incapacidade de executar procedimentos de auditoria suficientes para examinar a adequação de um passivo contingente". Segundo a Deloitte o assunto está relacionados a passivos trabalhistas de uma empresa que passava por uma reestruturação depois de uma fusão. "Naquela situação, a provisão feita era suficiente", afirmou Resende. O entendimento do órgão americano era de que deveria ter sido feita uma análise mais extensa e detalhada.
"É um caso julgamento profissional", disse José Roberto Carneiro, sócio da Deloitte responsável pela área de auditoria. "O julgamento foi muito severo."
Carneiro ressalva, no entanto, que esse é o trabalho dos reguladores e que sempre haverá discordâncias. "A Deloitte apoia o trabalho do PCAOB."
O órgão privado americano examina todas as firmas de auditoria cujos clientes tenham papéis negociados no mercado americano. De 2005 a 2008, o PCAOB fez 128 inspeções fora dos Estados Unidos, num total de 26 países.
Apenas partes dos relatórios são abertas ao público. Uma parcela "substancial" do documento, especialmente a que se refere às críticas ao sistema de controle de qualidade, é mantida em sigilo, a não ser que a firma não consiga reparar os erros encontrados.
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